A fotografia sendo protagonista: bate-papo com o fotógrafo Luiz Bhering
A fotografia é pescar uma memória do tempo e salvá-la da eternidade. É emoldurar sentimentos. É um despertar de lembranças talvez esquecidas. O eu lírico do fotógrafo(a). O último encontro no Nosso Bistrô foi protagonizado por um bate-papo com o fotógrafo Luiz Bhering.
Considerada uma forma artística de expressão, Bhering afirma que quando bem capturada, a fotografia se transforma em emoção. Para ele, a preocupação é trazer uma poesia imagética. Atuando nessa área há quase 40 anos, Luiz começou a trabalhar no Brasil como assistente de fotógrafo em alguns estúdios em Santa Teresa, RJ, por volta dos anos 80. Ele considera seu trabalho de vertente artística e individual.
– Logo vi a necessidade de estudar fotografia naquela época. Como no Brasil havia poucos recursos para uma formação acadêmica estruturada, fui estudar na City Polytechnic School of Arts and Design London, em Londres, por 2 anos. Fotografei para variadas revistas e trabalhei em alguns projetos o que me ajudou a iniciar uma vertente de fotografia, a parte artística. Fiz exposições em Madrid e depois fui para Barcelona, atuando também em algumas províncias da Espanha.
Fugindo dos planos de retornar para o Brasil logo após a sua formação, Bhering morou na Espanha por 10 anos. Para ele, a história da fotografia vai se popularizando. Luiz acredita que hoje, com os celulares, conseguimos esse meio de expressão de forma automática.
Ele afirma que a fotografia o conquistou desde o primeiro encontro. Aos 13 anos ganhou sua primeira câmera e, com ela, um projetor de slides – algo comum na época. Pontapé inicial para um menino aventureiro pronto para desvendar sua cidade, Niterói, por meio de fotos.
– Peguei minha bicicleta e fui de Santa Rosa até o Barreto, eu ainda não conhecia. Deparei-me com uma estação de trem abandonada e logo tive o impulso de pular o muro dessa estação e começar a fotografar. Eu tinha essa atração pela estação de trem abandonada, e passei o dia lá.
Quando eu revelei os slides, uma semana depois, eu fiz a projeção em casa para os meus familiares. Até a hora que eu mostrei a foto de uma casa, até então desconhecida por mim, dentro da estação, e minha mãe começou a chorar. Nisso que ela começou a chorar. Era onde ela vivia quando criança com sua família. Nesse momento eu vi o poder da fotografia.
Foi um momento que levo para o resto da vida.
Definindo-se com um fotógrafo de esquina, Luiz Bhering contou que fotografava o entorno, o Rio de Janeiro ou Niterói. Ele se auto nomeou de “Guanabarino”, por se sentir à vontade em qualquer margem da Baía de Guanabara. Por toda a circunstância, afirma a relação com o Nosso Bistrô ser especial.
– A Laura queria muito o MAC, ele como símbolo de Niterói. Eu havia feito uma exposição no MAC, em que o tema na exposição era o próprio MAC. A partir disso, eu preparei uma seleção de fotos que eu tinha e que colocava o monumento protagonista. Ter isso aqui, no bairro que eu moro é bem bacana. Serve de referência, já tive aqui pessoas que me buscam.
Fotos tirada por Luiz Bhering
Como referência para o seu trabalho, Bhering citou que entre tantos e, também, amigos queridos, ele possui admiração por artistas que encaram a fotografia como uma expressão artística.
– Sebastião Salgado é um artista que admiro muito, e principalmente com essa exposição sobre a Amazônia. O Walter Firmo, carioca fotógrafo de fotojornalismo, conhecido pela famosa foto do músico Pixinguinha, que ele tirou. Além desses, tenho uma grande admiração pelo fotógrafo americano Ansel Adams, um libertário da fotografia, conhecido por fotografar paisagens e um teórico nesse ramo.
Fotografia de Sebastião Salgado
Fotografia de Ansel Adamas
Fotografia de Walter Firmo
Dentre as variadas histórias e perrengues em viagens, chegando até a perder a câmera fotográfica, Bhering relembrou de um desfecho emocionante que o fez permanecer na City Polytechnic School of Arts and Design.
– Estava em Londres, nos anos 90, e tinha que preparar um portfólio às pressas para a avaliação dos professores da City Polytechnic School of Arts and Design. Decidi ir no metrô tentar fazer alguma foto, utilizando o outdoor da campanha da Benetton, onde três crianças faziam careta. Foi quando surgiram dois guardas do metrô dizendo que eu não poderia fazer as fotos mas, antes de guardar a câmera, arrisquei perguntar se poderia fazer um retrato deles. Para minha surpresa eles toparam e claro que eles não sabiam do cartaz.
Semanas mais tarde, ao apresentar as fotos para os professores, eles gostaram muito da foto e, ao final, ela foi decisiva não só pela minha aprovação, mas também por conseguir ir diretamente para o segundo ano.
Foto tirada pelo fotógrafo Luiz Bhering no metrô de Londres
Luiz Bhering contou que mesmo fotografando o Rio de Janeiro ou Niterói, hoje o seu foco é a Baía de Guanabara. Inserido nas campanhas de despoluição da Baía, ele irá participar de uma barqueata para Paquetá, sobre as medidas necessárias para a recuperação da Baía de Guanabara. Como pedido, ele divulgou que, em seu Instagram (@luizbhering), será feito um sorteio de uma foto emoldurada dele para arrecadar fundos.